Hoje foi um dia de lutar contra o burocracismo no Brasil. Acorda cedo e marcar a consulta com o otorrino no três poderes. Mas, como sempre você esbarra na falta de informação. Filas enormes, desinformação e a velha burocracia de sempre, fruto aliás da falta de confiança que temos em nós mesmo brasileiros.
Temos o sistema que merecemos, lento, burocrático, e capenga que reflete quem nos somos enquanto cultura, que reflete a falta de dinamismo mental e cultural de nosso povo infelizmente. Porque tudo tem que ser centralizado? Por que você precisa marca uma consulta e não pode ir diretamente ao médico?
Esse sistema também é fruto da nossa passividade enquanto povo na cobrança de uma saúde melhor. Saúde essa que vai de mal a pior com a corrupção e com a falta de consciência de grupo que assolar esse nosso Brasil.
Às vezes fico me perguntando que tipo de país é o Brasil, um lugar onde existe uma natureza exuberante, grandes recursos naturais, um imenso território, um povo pacifico?
Mas afinal de contas o que é o Brasil?
Brasil, pais cujo nome nasceu de forma original, por conta de uma árvore e de seu interesse como matéria-prima para os portugueses, nada mais mercantilista, ou seja, nada mais capitalista.
Mas afinal o que é o Brasil, esse gigante deitado em berço esplêndido, como bem compusera o autor do Hino Nacional como que num exercício profético, pois mesmo com todas as melhorias sociais dos últimos dez anos ainda creio que não sairmos desse berço.
Muito tem se falado do Brasil no exterior e agora nesse momento que escrevo esse artigo o Presidente Lula liberou uma verba para ajudar a Grécia, país cuja economia está aos solavancos, agora imagine você onde é que um dia Heródoto, iria imaginar que um país do outro lado do mundo viria ajuda um dos países berços da civilização ocidental.
Hoje somos um país emergente, fato novo no cenário da geopolítica mundial, ainda mais em um mundo que era acostumado a ver alguns poucos países como EUA, França, Inglaterra como atores de peso no cenário da política internacional.
Hoje posso ver o resultado disso na prática, digo do progresso econômico no Brasil, na expansão do ensino superior, na construção de prédios de luxo (em Imperatriz), no aumento da frota de veículos (mais poluição, mais engarrafamento), no aumento do consumo de alimentos (mais poluição ambiental).
Mas se por um lado temos a expansão do ensino superior o Brasil perder para a África nas olimpíadas de matemática; e a construção de prédios de luxo nos leva a pensar no planejamento urbano inexistente em uma cidade que tem um crescimento desordenado.
Bem, somos uma nação relativamente jovem, e embora tenhamos tido um substancial progresso econômico nas últimas décadas e muitas pessoas tenha se beneficiado disso ainda falta muito para que cheguemos a uma posição de um país realmente desenvolvido.
E essa é uma questão que vai além da distribuição de renda, do papel que o Brasil desempenha como recente ator auto convidado no cenário da geopolítica internacional, ainda que este venha à ajuda a Grécia, essa é uma questão mais doméstica e menos estética do que, por exemplo, ter um assento no Conselho de Segurança da ONU.
Agora respondendo a minha pergunta, e olha que essa é uma tarefa hercúlea, fazer a autopsia de uma país chamado Brasil, somos a meu ver uma concha de retalhos que dar certo, uma país de uma identidade fragmentária cujos maiores elementos aglutinadores, são o futebol e o idioma.
O Brasil é essa simbiose de elementos humanos, europeus, ameríndios e negros e de outros povos que por aqui chegaram e nesse caldeirão de povos e raças vão se aglutinando com base em uma cultura mais ou menos comum herdada do colonizador português.
O Brasil é esse jogo de forças e interesses em uma sociedade onde as pessoas tendem a sempre dar seu famoso jeitinho, onde se prezar pela burocracia, pois não pode confiar no próprio brasileiro, onde você tem um universo de leis que teimamos em descumprir pelo simples fato de que regras não é o nosso forte, e onde nem sempre as regras são claras como no futebol.
E isso pode ser visto na sociedade, no trânsito do dia-a-dia, no qual eu me deparo com situações de quase acidente, com a imprudência das pessoas, com a falta de respeito à sinalização, as regras de trânsito.
Esse jogo de interesses está também no caso das alunas de uma faculdade do interior do Paraná que por serem parentes de pessoas ligadas administração da instituição tinha bolsas do Prouni.
Sim o Brasil é esse jogo de interesses de uma sociedade que não pode reclamar de seus políticos, pois eles são a verdadeira cara da sociedade brasileira, nem mais, nem menos.
Sim, esse é Brasil país no qual eu vivo, mas não me alegro mesmo sendo pentacampeão do mundo de futebol, mesmo porque a vida é mais do que futebol, pois ela envolver questões sérias como a corrupção enraizada em nossa cultura, em nossa capacidade de comodismo, porque achamos que está tudo bem, embora não vejamos o resultado imediato disso.
Resultado esse que pode ser visto na falta de leitos de hospital para crianças, no desvio de verbas da educação, no transporte escolar de crianças feito em paus de arara, na falta de uma expressividade maior de nosso país nas olimpíadas, nos talentos que se perdem porque não olhamos para nossos jovens.
Agora o Brasil é o país que dar certo, não pela cultura comum, embora a língua nos ajude a nos comunicarmos, mas por causa do capitalismo. Sim o capital, tem esse poder norteador em nossa civilização.
Enquanto povo, enquanto nação nos falta ainda muito que alcançar, pois nos falta um sentimento de nação, nos falta uma maior consciência de grupo, embora isso não nos impeça de sermos o que somos um país com uma bandeira, um governo e um papel no mundo atual.
A consciência de grupo nos diz a que lugar pertencermos (espaço geográfico), e a que grupo pertencemos, ela ainda é embrionária em nossa sociedade, está presente quando torcemos pelo Brasil, e em outros momentos mas ainda é incipiente.
Essa mesma consciência de grupo não é tecida da noite para o dia, mas ela é o resultado de um lento processo histórico para uma população que habita um mesmo espaço, ela é forjada principalmente pelas guerras, pela necessidade de união das pessoas em prol de um objetivo maior.
Esse objetivo maior é a nação, que é a coletividade dos indivíduos que habitam aquele espaço, é a concordância em torno de questões que afetam a todos, é um acordo que está no subconsciente de uma coletividade.
O resultado disso é que em uma nação onde se tem um alto nível de consciência de grupo, as regras são claras, não existe excesso de leis pelo simples fato que a moral fala mais alto, a burocracia é mínima porque as pessoas confiam mais umas nas outras, a corrupção não é endêmica como um vírus incrustado sobre toda nação.
Agora oh, Brasil que está em berço esplêndido, até quando vais ficar aí? Até quando será assolado pela corrupção endêmica, pela falta de visão dos teus governantes, pela falta de uma consciência de grupo que te faça realmente majestoso perante as nações do mundo.
"Por que nos contentarmos com o pior, o medíocre, se podemos ter o melhor e não nos falta o recurso humano para isso?"
No meio da tragédia do Haiti, que comove até mesmo os calejados repórteres de guerra, levo um choque nacional. Não são horrores como os de lá, mas não deixa de ser um drama moral. O relatório "Educação para todos", da Unesco, pôs o Brasil na 88ª posição no ranking de desenvolvimento educacional. Estamos atrás dos países mais pobres da América Latina, como o Paraguai, o Equador e a Bolívia. Parece que em alfabetizar somos até bons, mas depois a coisa degringola: a repetência média na América Latina e no Caribe é de pouco mais de 4%. No Brasil, é de quase 19%.
No clima de ufanismo que anda reinando por aqui, talvez seja bom acalmar-se e parar para refletir. Pois, se nossa economia não ficou arruinada, a verdade é que nossas crianças brincam na lama do esgoto, nossas famílias são soterradas em casas cuja segurança ninguém controla, nossos jovens são assassinados nas esquinas, em favelas ou condomínios de luxo somos reféns da bandidagem geral, e os velhos morrem no chão dos corredores dos hospitais públicos. Nossos políticos continuam numa queda de braço para ver quem é o mais impune dos corruptos, a linguagem e a postura das campanhas eleitorais se delineiam nada elegantes, e agora está provado o que a gente já imaginava: somos péssimos em educação.
Pergunta básica: quanto de nosso orçamento nacional vai para educação e cultura? Quanto interesse temos num povo educado, isto é, consciente e informado - não só de seus deveres e direitos, mas dos deveres dos homens públicos e do que poderia facilmente ser muito melhor neste país, que não é só de sabiás e palmeiras, mas de esforço, luta, sofrimento e desilusão?
Precisamos muito de crianças que saibam ler e escrever no fim da 1ª série elementar; jovens que consigam raciocinar e tenham o hábito de ler pelo menos jornal no 2º grau; universitários que possam se expressar falando e escrevendo, em lugar de, às vezes com beneplácito dos professores, copiar trabalhos da internet. Qualidade e liberdade de expressão também são pilares da democracia. Só com empenho dos governos, com exigência e rigor razoáveis das escolas - o que significa respeito ao estudante, à família e ao professor - teremos profissionais de primeira em todas as áreas, de técnicos, pesquisadores, jornalistas e médicos a operários. Por que nos contentarmos com o pior, o medíocre, se podemos ter o melhor e não nos falta o recurso humano para isso? Quando empregarmos em educação uma boa parte dos nossos recursos, com professores valorizados, os alunos vendo que suas ações têm consequências, como a reprovação - palavra que assusta alguns moderníssimos pedagogos, palavra que em algumas escolas nem deve ser usada, quando o que prejudica não é o termo, mas a negligência. Tantos são os jeitos e os recursos favorecendo o aluno preguiçoso que alguns casos chegam a ser bizarros: reprovação, só com muito esforço. Trabalho ou relaxamento têm o mesmo valor e recompensa.
Sou de uma família de professores universitários. Exerci o duro ofício durante dez anos, nos quais me apaixonei por lidar com alunos, mas já questionava o nível de exigência que podia lhes fazer. Isso faz algumas décadas: quando éramos ingênuos, e não antecipávamos ter nosso país entre os piores em educação. Quando os alunos ainda não usavam celular e iPhone na sala de aula, não conversavam como se estivessem no bar nem copiavam seus trabalhos da internet - o que hoje começa a ser considerado normal. Em suma, quando escola e universidade eram lugares de compostura, trabalho e aprendizado. O relaxamento não é geral, mas preocupa quem deseja o melhor para esta terra.
Há gente que acha tudo ótimo como está: os que reclamam é que estão fora da moda ou da realidade. Preparar para as lidas da vida real seria incutir nos jovens uma resignação de usuários do SUS, ou deixar a meninada "aproveitar a vida": alguém pode me explicar o que seria isso?